quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Capítulo 7 - Dragão

   O dia começava, o sol se erguia, os pássaros cantavam... Cornélia retirava as folhas que envolviam a sua barriga, Caleb esperava. A noite não fora das melhores, nenhum dos dois conseguira descansar, preocupações giravam em suas cabeças a todo instante. No entanto, era hora de se erguerem e continuarem a caminhada. O dia ia calmo, nenhum dos dois falava muito. Quando falavam eram comentários de algum animal, planta, eram conversas aleatória que se dispersavam rapidamente.
   O sol estava em pico quando chegaram ao Vale dos Dragões. Um lugar perigoso para dois humanos, os dragões daquele local não eram muito amigáveis e para eles "humanos" era sinônimo de refeição.
- Precisamos fazer o menor barulho possível e ficar juntos. Segure minha mão.
   Cornélia detestava quando Caleb a tratava como uma garotinha indefesa. Ela já passara pelo menos duas vezes pelo vale e sozinha. Mas era melhor fazer o que ele dizia, discutir em um local como aquele não era nada inteligente. Naif voava a frente, bem baixo na altura do ombro do rapaz que ia atrás dele, em seguida, vinha a princesa. Os dois estavam de mãos dadas para não se separarem, mas nem um nem o outro se sentia muito confortável com aquilo. Tanto um quanto o outro, não estavam acostumados ficarem tanto tempo com alguém, principalmente do sexo oposto, então era normal aquela sensação de desconforto.
   Escolheram um caminho largo para a passagem dos três, era um túnel aberto. Paredes de pedra dos dois lados, mas em cima, era aberto. Tinha a aparência recente. Provavelmente em uma briga de dragões algum deles espirrara fogo naquela direção abrindo o caminho. Perceberam tarde de mais que erraram na escolha. Aquela trilha não contornava o Vale como haviam pensado, mas ia bem para o meio dele. Caleb praguejou em voz baixa. Cornélia não disse nada, tentou esconder a apreensão. Por que nessa viagem estava tudo dando errado?
    Naif piou, seria melhor não voltarem. A princesa não entendia o que o falcão "dizia", mas Caleb estava familiarizado com isso. Assim eles continuaram andando, mesmo no meio do Vale, mas ficavam encostados nas paredes de rocha. Cornélia havia soltado da mão dele. Ele fingira que não notara, embora o incomodasse um pouco, pois assim ficava mais difícil de saber se a garota estava atrás dele. E, depois da noite passada, Caleb estava preocupado com ela.
   Ficaram o dia inteiro andando, o sol começava a baixar e eles ainda estavam no Vale dos Dragões. Os dois andaram com tanta cautela que seus músculos estavam começando a ficar rígidos. Embora a dor fosse chata era suportável. Precisavam sair daquele lugar o quanto antes.
   Mas a coisa não era tão simples.
   Já era noite. Naif encontrara uma gruta para que pudessem descansar um pouco. Cornélia sentou-se no chão a um canto esgotada. Caleb sentou-se em cima de uma rocha em outro canto. Estavam com fome, mas nenhum deles reclamava. Não falaram por alguns minutos até que Caleb levantou e tentou procurar por Cornélia, era meio estranho vê-lo de pé com uma mão estendida e a outra em seu bastão guia. Ela percebeu o que ele queria rapidamente, levantou-se também, pegou na mão dele, o guiou até onde estava antes e os dois sentaram-se no chão. E ele começou a falar, bem baixo.
- Acho melhor continuarmos andando.
- Caleb, você sabe que é perigoso demais. Durante o dia os dragões podem estar voando, caçando, mas à noite eles vêm pra cá.
- Eu sei. Por isso quero que você me guie, quando algum dragão se aproximar nos escondemos. Tenho uma boa audição, mas preciso enxergar a minha volta também. Peço que você seja meus olhos.
   Ele queria sair logo do Vale, aquele lugar lhe traziam más lembranças.
   Cornélia acabou cedendo ao pedido dele. Logo saíram da gruta de mãos dadas novamente, mas dessa vez era Cornélia que estava atrás de Naif e Caleb vinha atrás dela. Iam em frente com mais cautela, andavam se escondendo a todo o momento mesmo que não houvesse nenhuma ameaça aparente. Se tinha uma coisa que a princesa era boa era em se esconder, fizera isso uma boa parte de sua vida.
   Parecia que fazia horas que estavam andando, se aproximavam do fim do Vale dos Dragões, até que finalmente um dragão se aproximou. Caleb conseguiu ouvir as asas dele e Cornélia viu sua sombra antes do dragão voar perto deles. O mais rápido que conseguiram se esconderam atrás de algumas rochas meio arredondadas, havia o suficiente delas para conseguirem não serem vistos e agacharam-se bem próximo ao chão. Naif voara para longe, algum lugar não visível. Esperaram. O dragão começou a se distanciar. Começaram a andar para trás ainda meio abaixados.
   Mesmo com olhos Cornélia não foi capaz de enxergar o suficiente. Ela bateu com força em algo muito sólido, no início achou que fosse uma pedra, mas era diferente, parecia ter escamas. O horror tomou conta de seu rosto ao se virar e ver as costas de um dragão. O susto foi ainda maior quando subitamente percebeu que aquilo que ela tomara por rochas eram na verdade ovos. Estavam no ninho do dragão.
- Precisamos sair daqui rápido. - dizendo isso a princesa puxou Caleb e começou a correr, nem se importando com o barulho. Já era tarde mesmo, o dragão que ela chocara-se já havia visto eles.
   Caleb correu sem entender, até que ouviu o rugido. Então começou a correr acompanhando Cornélia.
- Qual é o tamanho? É adulto? - perguntou.
- Não sei! Acho que ainda não é adulto, mas não é uma criança. Meio termo talvez.
   Naif apareceu novamente. Cornélia começou a segui-lo puxando o rapaz consigo. O dragão parecia não estar tão preocupado com os invasores. Terrível engano. Caleb sentiu o calor vindo em sua direção e tentou correr mais rápido. O dragão não se preocupara em seguir os invasores preferiu usar o fogo.
   As chamas logo alcançariam os dois, Naif poderia voar e escapar, mas os dois fariam o que? Cornélia nem pensou muito, o fogo estava prestes a alcança-los e queima-los, ao ver uma abertura na parede rochosa pulou lá dentro e puxou Caleb. O túnel os levava para baixo e foram escorregando. O fogo do dragão não entrou muito no túnel, fora um jato de chamas muito reto para se desviar daquele modo. O túnel era longo e os dois escorregavam sem protestos. Finalmente acabou, Cornélia foi de cara no chão e Caleb caiu em cima dela.
   A boa notícia era que estavam fora do Vale dos Dragões.
   Caleb levantou-se com dificuldade, balbuciava desculpas a Cornélia por ter caído em cima dela. Já de pé eles começaram a ir em frente se distanciando o máximo possível do Vale. Estavam ofegantes. Naif ainda não aparecera, ele sumira assim que entraram naquele túnel. Os dois só pararam ao chegarem a uma árvore com raízes enormes que poderia abriga-los e era longe o suficiente do Vale dos Dragões.
- Não se preocupe, Naif sabe se virar sozinho, logo ele aparece.
   O rapaz tentou parecer tranquilizador mas uma interjeição de dor o delatou. Cornélia olhou para ele que segurava o braço.
- Deixe-me ver.
- Não, eu estou bem, não é nada.
- Caleb, você se machucou, me mostra o seu braço. - ela falou um pouco autoritária demais, mas funcionou ele estendeu o braço machucado para que ela pudesse analisar.
   A manga da camiseta de Caleb estava um pouco preta e uma parte do tecido foi consumido pelas chamas. No seu braço tinha uma queimadura não muito comprida próximo ao pulso. Estava bem vermelha.
- Precisamos colocar isso na água, espera aqui.
- Aonde você vai?
- Vou ver se acho alguma coisa pra ajudar nessa queimadura.
   E ela foi e ele ficou. Ele se sentia mal toda vez que ela "cuidava" dele.
   Ela voltou rápido com várias folhas na mão. E começou a amassá-las na ferida.
- Não achei exatamente a planta que eu queria, mas essas são boas também...
- Cornélia, eu... Eu sinto muito - ele estava de cabeça baixa.
- Pelo que? Você não fez nada de errado, pelo contrário, você tem me ajudado muito.
- Você estava certa não deveríamos ter tentado sair daquele lugar durante a noite.
   Ela olhava pra ele surpresa. Ele sentia-se culpado, pedia desculpas a ela, mas quem estava ferido era ele.
- Você não tem que se desculpar. O importante é que saímos de lá. E que você precisa descansar. Eu vigio primeiro.
    Dito isso, com o braço enfaixado, Caleb virou-se e deitou no chão tentando dormir. Mas não parava de pensar. Queria entender mais daquela garota que estava com ele. Ela era tão boa com ele como ninguém nunca fora depois que sua mãe morreu e ele ficou cego. Caleb agitou a cabeça tentando expulsar pensamentos tristes e se entregou ao sono.

Um comentário:

  1. Carol, estou amando o seu blog, e a historia!!!
    Paarabéns e tudo de bom pra vooc!

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