quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Capítulo 2 - Floresta viva

   Fazia 8 anos que Cornélia encontrava-se na Floresta Mágica. Aprendera tudo para sua sobrevivência, o que era comestível, o que fazia mal... Conhecera diferentes animais de diferentes cores, assim como plantas nunca vistas antes em outro lugar. Agora a princesa tinha 18 anos, ainda tinha a pele muito branca, pois não tomava sol, as árvores tão altas sempre faziam sombra. Os seus olhos continuavam negros e expressivos. Mas agora era mais alta, seu corpo ganhara formas, e seu cabelo crescera. Ela vivia feliz naquele lugar. Raramente encontrava algum humano na floresta, quando ouvia passos já se escondiam em raízes ou escalava uma árvore para não ser avistada.
   Conversava frequentemente com os animais e plantas, e algumas vezes também cantava. Para muitos ela pareceria louca, mas a solidão traz medidas desesperadas. Nunca saíra da floresta e vivia bem no meio dela. Nunca descobriu se seus pais estavam vivos ou mortos. Não tinha a menor notícia do reino.
   Ela fizera amizade com os animais, eles aprenderam a não teme-la. Ela muitas vezes cuidava deles, se estivessem machucados fazia curativos. E foi através deles que ela aprendera quais ervas eram medicinais, quais frutas ela poderia comer, era só observa-los e ver o que comiam ou, às vezes, eles indicavam de alguma forma à ela o que faria bem e o que faria mal.
   Os primeiros anos foram os mais sombrios para Cornélia, ainda estava muito assustada com o que acontecera e a lembrança de seus pais sempre a atormentava. Mas logo se acostumou com o fato de estar sozinha e decidiu aprender, mais e mais. Encontrava-se preparada para fazer curativos, com plantas medicinais que encontrava na floresta. Além do mais, aprendeu a prepara sua própria comida, uma coisa estranha para uma princesa. Sua alimentação baseava-se em frutas e peixe, mas era raro quando fazia peixe. Com isso, a princesa era bem magra, mas não era fraca. A vida na floresta fazia cm que ela se exercita-se constantemente, correndo de animais (às vezes até mesmo de plantas), subindo em árvores, nadando nos riacho e lagos. Desenvolvera músculos e seria capaz de segurar aquelas pesadas espadas de cavaleiro, se tivesse uma.
   O cenário da floresta era um pouco assustador afastando até mesmo os mais corajosos viajantes. Era densa, cheia de árvores enormes, altas e grossas. As árvores eram vivas, sussurravam coisas, e podiam mexer suas raízes quando bem entendessem. As flores eram estranhas em diferentes formatos, mas eram excepcionalmente coloridas, a maioria ficava nos galhos das árvores como trepadeiras, poucas ficavam no chão. O tamanho das árvores fazia com que pouco da luz do sol entrasse. Mas depois de 8 anos quem não se acostuma com as sombras no dia-a-dia? Às vezes, quando cantava, Cornélia tinha impressão que as flores a acompanhavam, em um tom baixo como um lamento
   Havia ainda umas plantas exóticas. Plantas carnívoras do tamanho de um homem adulto, além de outras que Cornélia não saberia dizer o que são. Com pétalas grandes e fechadas, quando perturbadas elas se abriam mostrando um ramo um tanto violento, batendo em tudo à sua volta para machucar quem ou o que o perturbara.
   Tudo parecia vivo, era comum ver pedras movendo-se para outro lugar. Os animais já estavam acostumados, afinal estiveram sempre ali, mas para um ser humano levava certo tempo até se acostumar com coisas tão extraordinariamente estranhas. Mas afinal a floresta fazia jus ao nome, era mágica.
   Havia a lenda de que um mago morara na floresta outrora. Os camponeses temendo os poderes do mago decidiram expulsa-lo de lá e tacar fogo em sua casa. E foi o que fizeram. O mago furioso lançou todo o seu poder sobre a floresta, transformando-a e assim desapareceu. Ninguém poderia dizer se aquilo realmente acontecera, pois nunca encontraram um sinal sequer de uma casa e não encontrariam se ela fora realmente queimada.
   Mas a floresta não era somente encantos, era extremamente perigosa. Havia o Vale dos Dragões em algum canto da floresta, cheia de dragões que não aceitavam intrusos independente de quem fosse. Havia o Bosque Espinhoso, com plantas (ou animais?) cheios de espinhos, que se acordados não recebiam bem os visitantes. Além dos perigos em toda floresta. A grama às vezes se mexia e se irritada poderia engolir um animal, assim como havia plantas com espinhos por todos os lugares. Além das frutas e cogumelos venenosos, que poderiam matar um rato e fazer um homem passar mal por uma semana.
   E era neste lugar que Cornélia vivia. Por algum motivo sabia que a decisão de ficar na floresta tinha sido a escolha certa. Algo lhe dizia que os campos não eram seguros, pelo menos não para ela.

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